
Um dia a morte bateu à porta,
maliciosa perguntou se ali morava,
uma jovem abatida e quase morta,
levaria a sua vida tão amada.
Assustado fechei o portal à dita-cuja,
o terror da vida dos desesperados,
gritei para a jovem: fuja, fuja!
A megera está aí com o seu arado!
Ela trêmula e descabelada,
lânguida pela doença que debilitava,
levantou aos gritos aterrorizada,
tropeçando no penico onde escarrava.
Corri e no sufoco a levantei,
ajudei a pobre coitada a se esconder,
a morte insistiu, aí… GRITEI!
Agora eram dois a se esconder.
O escândalo no bairro foi tanto,
que a vizinhança toda acordou,
a morte agora sentada em prantos,
chorava a alma que não levou.
O cão da vizinha endoidou e tremeu
latindo para cima da ceifadora,
assustada levantou e correu,
foi embora a morte colhedora.
Após o sumiço da foice,
a jovem ao seu leito voltou,
cerrou os olhos na calma da noite
e a morte sorrateira no silêncio a levou.
Autor: Bessa de Carvalho
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