
Na mesinha da sala um copo d’água pela metade.
Ao lado um livro esperava a sua vez para ser lido.
A luz suave iluminava a toalha de mesa com todo o seu colorido. Nas mãos um pedaço de papel de presente com os dizeres: Estou indo embora hoje, não tenho nada a lhe dizer.
Um ponto final na frase e no coração.
Na garganta a voz embargada esperava para sair, mas não encontrou o caminho.
Ao lado deixou uma flor curiosamente sem espinhos, colhida no próprio quintal.
O vento entra pela janela como a refrescar os pensamentos desconexos. Por que? Nem se despediu!
Os anos juntos não significaram tanto assim.
Nesse momento ele descobre que sentimentos são como as águas da praia que vem e vão com a baixa e a alta maré.
Levanta-se meio incomodado com o ocorrido e o papel continua em suas mãos.
Move-se até a janela e observa o marque brando nas pedras próximas.
Os olhos fitam a lua a iluminar a escuridão.
Sente o pulsar do seu coração e medita n’um amor não correspondido.
Não sente raiva, nem medo, muito menos desprezo… somente um amor desfigurado e embebecido em solidão.
Autor Bessa de Bessa de Carvalho
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