
Nas memórias vivas que guardo em assombro,
em manhã de céu azul e sol escaldante,
cheguei indigno e humilhante
pisando nas pedras no Cais do Valongo.
Arrancado da África mãe e levado em solidão,
esta, subjugando-me com ausência do amor,
sendo negro, no chicote e na dor,
escravizaram-me com outros irmãos.
Colocaram-me em navio a viajar
e nos negreiros naveguei com os ratos,
sofri com a fome e a cumbuca era um prato,
Nu, na carne crua, respirei humilhação.
Eu sou negro e nas algemas da escravidão,
trabalhei nos campos de milho e café,
nas noites da senzala consolava-me na fé,
nos ensinos da minha religião.
Quando a Lei Áurea foi assinada
a alegria no sorriso estampou,
libertei-me dos temores do horror
e no meu peito a liberdade gritava.
Eu sou negro e sinto o valor da minha origem,
sou de alma nobre e sincera
na soltura o que apenas se espera,
é o respeito a condição de cidadão.
Sou um ser igual que pensa, ama e sente,
tenho orgulho da minha cor
e os sentimentos que do outro espero,
são dignidade, igualdade e amor.
Dia 13 de Maio, comemoram-se a promulgação da Lei Áurea.
“(…) O Cais do Valongo é um antigo cais localizado na zona portuária do Rio de Janeiro, entre as atuais ruas Coelho e Castro e Sacadura Cabral. Recebeu o título de Patrimônio Histórico da Humanidade pela UNESCO em 9 de julho de 2017, por ser o único vestígio material da chegada dos africanos escravizados nas Américas.
Construído em 1811, foi local de desembarque e comércio de escravos africanos até 1831, com a proibição do tráfico transatlântico de escravos. Durante os vinte anos de sua operação, entre 500 mil e um milhão de escravos desembarcaram no cais do Valongo. (…)”
O processo de abolição da escravatura no Brasil foi gradual e começou com a Lei Eusébio de Queirós de 1850, seguida pela Lei do Ventre Livre de 1871, a Lei dos Sexagenários de 1885 e finalizada pela Lei Imperial n.º 3.353, conhecida como Lei Áurea.
A escravidão é um ato que mata a esperança, os sonhos e depois a própria vida do ser escravo. Promove o holocausto, desrespeita os valores humanos e causa a falência moral da humanidade.
Autor Bessa de Carvalho
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